domingo, 4 de maio de 2014

Suicídio

Se há pouco me curavas
Com frascos teus tão pequenos
Já depois de tanto uso
Eu te fiz de mim veneno

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Sonolência

Na despedida da noite surge
Intensa clareza de sol do meio-dia
Silêncio confina e me conta
O que fez o mundo que dorme.

Cem borrões são postos juntos 
Dia inteiro de sensações.
Sem madrugadas de lembranças
Espalhadas em visões.

Não haveria nem vontade
De passar semana ou hora
A escrever tanta saudade
Quanto sou aqui e agora.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

assistência

amor, trocaram meus olhos
esses aqui estão com defeito
eu quero aqueles olhos de volta
tô sentindo falta do amarelo, tá tudo tão azul e cinza
até meu corpo tá estranhando essas cores e paredes frias

pede pra me devolverem?
eu não consigo ver a porta direito
e eles insistem em se fechar sem vontade de abrir de novo

tô com sono, amor
não eu, meus olhos
vem dormir comigo?

alguém?
quero levantar
mas eu não vejo nada
e se eu cair?
ou pior, e se eu cair num buraco?

mas eu quero cair!
eu?
não, os olhos!
aqueles quebrados, os defeituosos

eles vão me fazer cair e me quebrar
mas já tem tanta coisa quebrada por aqui
que mais uns cacos não seriam de todo ruim

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Se existe algo mais auto-destrutivo do que viver, eu desconheço.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

in memoriam


               
Aos olhos, um brinde.
 [Sempre à procura.]
  Às risadas, música.
    [Pela face dura]
               
Aos abraços, uma vela.
  [No escuro, agora.]
Ao coração, a saudade.
   [De tudo que fora.]
               

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

perda

uma morte que leva mais que o morto

sábado, 2 de fevereiro de 2013

desesperança

Sabia que não tinha ninguém do outro lado pra ouvir, mas, mesmo assim, gritou:

"Que isso não se repita! Amém."

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

castelo

construído em areia por várias mãos
quando o vento bate, se desfaz

sábado, 29 de setembro de 2012

último cigarro

moço, me vê um cigarro?

mas eu não quero qualquer cigarro, eu quero o último.
isso mesmo, o último. quero o gosto do último, o cheiro.
não quero deixar passar nenhuma sensação.

um pouco de culpa em cada tragada, mas a certeza de que, uma vez apagado, não vai mais haver fumaça para me queimar os olhos.
eu já fumei muito, sabe, moço

tem fogo?

muitos últimos cigarros.

obrigado

mas esse aqui... esse é realmente o último, prometo.
prometo não sei pra quem, acho que pra mim mesmo, mas prometo.

eu gosto de fumar.
eu sei que não faz bem. já ouvi essa história toda, mas gosto.
tem horas que vale a pena guardar toda essa fumaça no peito em nome de um trago.
é... tem tragadas que valem a pena, muito.
depois é só botar tudo pra fora e partir pra mais uma.
e, talvez, partir pra um próximo cigarro. o último.

muito obrigado, moço, até qualquer dia desses.
quem sabe eu retribua com uma cerveja.

domingo, 12 de agosto de 2012

história

E de tanto desejar ser maduro
Apodreceu e caiu.