terça-feira, 13 de dezembro de 2011

incoerente

como eu posso me sentir tão pesado
se me foi tirada uma parte

terça-feira, 22 de novembro de 2011

louco

que mal lhe pergunte:
o que você fez com a memória que eu te dei?

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

homem

e quando eu chegar aos céus,
para onde poderei ir depois?

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

boêmio

entre um cigarro e um beijo
um pedaço de queijo
copo de cerveja

ou mesmo na cama
de quem quer que seja
procurando aquilo que mais se deseja

uma dose de tempo
que ja se perdeu
enquanto buscava
o que não era meu

terça-feira, 30 de agosto de 2011

matemática

sabe o que mais me apaixona em você?
a matemática.

quais as chances de ter alguém assim em outro lugar do mundo
tão perto
de existir atração
de existir um "sim"
de ter um sorriso
ou até mesmo seu rosto com raiva

quais as chances de poder olhar pro lado
e ver esse sorriso

quais as chances de eu conseguir juntar palavras
mesmo que seja só pra dizer
entre uma risada e um carinho
como é bom e ter todos os números a seu favor

e talvez até chamar de amor
o que, para qualquer observador,
é pura e simples matemática.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

revisão

apaixonado por ideias, e ideias somente.
a vontade de lidar com o mundo real cansa mente e corpo,
mas as ideias... ah, as ideias, um mundo abstrato que não é necessariamente feliz, mas é puro.
puro na sua dose de tudo, puro e coerente. prazeroso, original, único.

mas de que adianta caminhar sozinho pelos jardins da mente?
acordar a cada dia com os olhos cansado a ponto de não se abrirem, e ter de lembrar como funciona aquele mundo que se respira, que se vê, que se ouve, que se sente. mas não se controla.

quem se controla, vive.
quem descontrola, escreve, revisa, rabisca, ou tenta.

terça-feira, 21 de junho de 2011

olhar

o seu olhar me desrespeitou
despertou alguma coisa, talvez o que eu precisava.
pode ser, obrigado.
(pelo quê? não sei)
talvez por quebrar correntes
ou um copo.

tem alguma coisa quebrada, mas os espelhos parecem intactos.
talvez os porta-retratos (de quem?)
talvez seja você.
mas nem aqui você está, como pode?
tem uma mancha no seu rosto.
culpa? acho que não.
tem alguma coisa diferente, em mim, em você.

você...
...por que eu ainda te chamo assim?
por que eu ainda te chamo?
quem é você, queria eu me perguntar.
infelizmente eu sei, só não sei responder.
tem uma mancha no seu rosto.

tu te sujaste, memória.
viva ou não. fora de mim.
fora daqui.
tu te sujaste.

ouro

o problema não é o rei
ou a coroa

a figura reluzente é passageira, mas a marca que deixa nos olhos da multidão
deslumbramento
respeito
irracionalidade

permanente

manada pronta,
sem objetivo,
é só seguir o que o mestre manda

mas é um pedaço de metal, meu deus, é uma ideia, é um futuro, é um muro
é alguma coisa, me deixe passar.
pelo amor do rei, eu só quero ir a algum lugar.
sem ombros ao meu lado
o castelo não, talvez os jardins. mas a coroa está lá,
está no ar
está na minha cabeça

pedras pesam, preciosas ou não.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

sem título, sem cor

eu não sei
se só hoje
as sombras decidiram dançar à minha volta

ou se eu que nunca tinha parado para admirá-las

há sombras no fim do dia
que assombram o fim do túnel

a sombra que me convida
à dança não permitida
àqueles de peito frágil
que encontram na carne fria
a chance de talvez um dia (quem sabe o último)
sentir a vontade perdida
de cantar e dançar
outra vez
                   a vida

segunda-feira, 25 de abril de 2011

andava como levava a vida: preocupando-se com o objetivo do momento.
não via os transeuntes nem nada desnecessário.
era uma pessoa diferente em cada época, moldado por problemas e expectativas,
mas perdia por não perceber o mundo que ignorava.

vivia como os outros mas não via.
nada
feliz o homem que sabe exatamente o que vê quando olha o espelho

domingo, 24 de abril de 2011

nada mais sedutor que a distância

sábado, 16 de abril de 2011

carta de algum lugar

Olá.

Talvez eu nem esteja vivo quando leres isso, ou pode até ser que eu ainda não tenha nascido.

Mas não é porque eu não nasci que eu não tenha alguma coisa a falar, não necessariamente algo bom ou bonito, ou algo que vá mudar alguma coisa. Eu só quero falar.

Quero despedir-me. Sim, despedir-me. Da minha vida que não existe e que em nenhum momento fez com eu me apegasse a coisa alguma, mesmo que ela própria.

No lugar onde eu existo, já vi por muitas e muitas vezes pessoas sendo julgadas por descartarem as coisas. 

Família, dinheiro, esperma, tempo.

Que valor têm as coisas? E, se é que possuem algum valor, esse valor não depende da realidade de cada ser ou não-ser? Do ângulo que meus olhos - ou os seus, ou os dela - vêem tudo? Da dose do mundo de cada um, do mundo de cada um, do um de todo mundo. 

A dose do meu mundo é essa. Chega. Cada um escolhe o que abraça e o que defenestra, e em nenhum momento essa vida que me foi dada foi colocada como uma opção. Mas essa opção existe, tão presente, real e física quanto o cansaço. 

O cansaço nosso de cada dia.

O dinheiro nosso de cada pão.

O valor nosso do dinheiro dos outros.

Amém.

E o cansaço fica aí, colado nessa vida de escolhas obrigatórias que nem todo mundo é capaz de levar nas costas, que nem todo mundo é capaz de entender, mas que fica tão simples quando vista por fora. Nos outros olhos, que não os nossos. O leão não escolhe a jaula, o mundo lá fora fica sempre dentro dele, mesmo que ele não o entenda. Ele só quer ser leão, ou talvez nem isso! Pode ser que ele seja apenas o leão que o mundo o moldou. Aqueles olhos em volta... Sempre atentos, para garantir que a jaula seja jaula, e que o leão seja leão.

O leão cansou. Não quer ser leão: quer ser livre.

Agora que tudo foi dito, a memória que aqui escreve pretende descansar, ser o texto que sempre pretendeu.
Não queira gravar o nome, pois nome não tenho. Mas tenho voz, e espero que alguém tenha ouvido.

Com licença, que o descanso me aguarda.

domingo, 3 de abril de 2011

coesão sem coerência, ou vice-versa

ornitorrincos
os estereótipos, a felicidade e esse tal de futuro




          Sabe como é: humanos andas em duas pernas, falam, apresentam polegar opositor e blá, blá, blá. Sapos pulam e coaxam, aves têm asas, penas, bicos, botam ovos. Peixes vivem na água com suas guelras...


          É assim, não é? Não é?


          Precisamos classificar, olhos iguais, vozes iguais, cores iguais, personalidades iguais. Diferenças iguais. Não é assim? Hein? Eu preciso saber. Não é? Precisamos de aliados, e também de inimigos. Precisamos ameaçar quando nos é conveniente, precisamos classificar: prédio, gente, cachorro, gato, pombo, ornitorrinco. Ornitorrinco não. Deixa esse bicho pra lá, deixa. Tem de tudo nessa coisa, não dá pra separar.
          Como pode ser feliz assim? Sem saber onde entrar, sem saber o que o faz parte de alguma coisa. Meu Deus, não consigo imaginar! Deve ser tão triste... Nascer sem um caminho para seguir, ter um pouco de tudo e parecer não servir para nada. É como ser geneticamente esquizofrênico.
          Mas... alguém muito diferente talvez possa fazer um pouco de tudo. Um intertexto gigante, uma possibilidade em mil ou em um milhão de ver o que está certo ou errado nas monoculturas de pessoas e coisas, nos grandes espaços preenchidos por coisas e seres iguais. Os caminhos ainda não percorridos que podem levar o mundo a um lugar diferente, um lugar feliz que talvez valha a pena, onde o bom mesmo seja a diferença.
          Preserve os ornitorrincos.

sábado, 2 de abril de 2011

a casa

o velho estava em todo canto
na sala
no quarto
na cozinha

e sabe deus se prestava atenção nas pessoas que entravam.
cada um com sua graça, cada um com seu milagre.
da porta não passavam os pecados, e talvez nem o resto.
apenas as graças, apenas os milagres.

entre roupas, retratos, presentes e mais pertences,
unidos por fé e pedidos,
o povo caminhava no meio do passado do padre tido como herege.
por ter órgãos. coração e cérebro grandes.
grandes como a multidão que mantinha viva a casa, a memória e a história.
a multidão que se agrupa e dissipa a cada dia, entrando e saindo.
cada um com sua graça.
cada um com seu milagre.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

ciranda

a mulher chegou,
corre, corre
a vila parou,
corre, corre

a negra do sorriso branco sorriu com a roupa de casa
o povo comia, bebia e sorria enquanto a dona de casa virava a dona do palco

começou!

a batida, a melodia, a voz. a voz.
os pés, o povo. a dança.
tudo isso em frente à igrejinha fechada e iluminada

começou! era a hora deles, deles todos. o círculo formado, a dança começa, sem ensaio nem passo marcado.
a senhora virou moça e até o moço das pernas fracas dançou.
os turistas conheceram a dança, encontraram o ritmo. e ali tudo ficou igual.
não havia velho nem novo, não havia pobre ou rico.
só havia ali música. e o fantástico quadro tirado do pincel do povo.